(DOUGLAS, Rafael. Las Grades. Abril, 2012)
José
Vieira da Cruz
Professor
e historiador
As manifestações contra o aumento das tarifas de transporte coletivo,
eclodidas em várias cidades do país no curso dos últimos meses, têm chamado bastante
atenção. Manifestações parecidas já aconteceram no Brasil, a exemplo da
“Revolta do Vintém”, ocorrida na cidade do Rio de Janeiro, entre dezembro de
1879 e janeiro de 1880, quando os resultados dos protestos conseguiram revogar
o aumento da tarifa de bondes e derrubar o Ministério que estava no poder. Na
primeira metade da década de 1980, protestos contra o aumento das tarifas de
ônibus, intercalados por pichações e outras manifestações, compuseram o
contexto de combate à ditadura civil-militar e fizeram parte do processo de
redemocratização em várias cidades do país. E, mais recentemente, houve a “Revolta
do Buzu”, ocorrido na cidade de Salvador, em 2011. Essas revoltas e
manifestações, não obstante suas especificidades, têm em comum o combate ao
aumento das tarifas de transporte coletivo.
No caso das cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, a visibilidade alcançada
pelas manifestações ocorridas neste mês de junho, obtiveram grande repercussão
por causa de algumas atitudes violentas. Se por um lado a ação de alguns manifestantes
danificaram bens públicos e privados; por outro, a forma como o Estado reprimiu
tais atos suscitou associações incômodas, dentre elas, destaca-se a memória da
repressão praticada pela ditadura civil-brasileira (1964-1985).
No cerne dessa associação, as cenas de violência divulgadas pelos meios
de comunicação e, sobretudo, postadas nas redes sociais, têm dimensionado a
ideia de que parte da sociedade brasileira sente-se representada na ação dos
manifestantes. Essa situação tem
colocado na defensiva tanto o governo do Estado São Paulo, do PSDB, quanto o
prefeito da cidade, do PT. Ambos sustentam a autorização do reajuste das tarifas
dos transportes coletivos e, de modo direto ou indireto, apoiam a ação da polícia
para manter a “ordem social”, divergindo apenas, em alguns pontos, quanto ao uso desproporcional
da força pelos policiais.
Mas, diante da repercussão observada, em particular a produzida pelas
redes sociais, pode-se dizer que parte da sociedade passou a conferir mais
atenção às ações dos manifestantes. É possível que essa repercussão esteja
causando algum tipo de incômodo a imagem de gestores públicos municipais,
estaduais e do próprio governo federal, independente da legenda partidária. A
intensidade desse incômodo pode fazer alguns desses gestores se preocuparem com
algo mais que a realização de copas e dos Jogos Olímpicos. Seria esse um dos
significados do que chamamos de “Revolta dos Centavos”, em alusão a “Revolta do
Vintém”?
Agora, nas disputas entre as manchetes, a Copa das Confederações poderá
sofrer concorrência de possíveis manifestações contra o aumento das tarifas de transporte
coletivo? O que será feito disto? Será que a bandeira do não aumento das
tarifas vai ser atendida? Outras bandeiras surgirão? “Novos” atores políticos
surgirão? O Estado repensará sua forma de lidar com os manifestantes? A sociedade
destinará mais atenção ao debate político? Estas e outras perguntas serão
respondidas durante ou após a Copa das Confederações?
Publicado:
Portal Faxaju, 16/06/2013. Disponível em: http://www.faxaju.com.br/conteudo.asp?id=165190
Portal Minuto Sertão, 16/03/2013. Disponível em: http://minutosertao.com.br/noticia/5814/2013/06/15/a-revolta-dos-centavos-e-seus-significados-
Blog Primeira Mão, 24/06/2013. Disponível em: http://www.primeiramao.blog.br/post.aspx?id=5906&t=a-revolta-dos-centavos-e-seus-significados
Publicado:
Portal Faxaju, 16/06/2013. Disponível em: http://www.faxaju.com.br/conteudo.asp?id=165190
Portal Minuto Sertão, 16/03/2013. Disponível em: http://minutosertao.com.br/noticia/5814/2013/06/15/a-revolta-dos-centavos-e-seus-significados-
Blog Primeira Mão, 24/06/2013. Disponível em: http://www.primeiramao.blog.br/post.aspx?id=5906&t=a-revolta-dos-centavos-e-seus-significados
São objetos que estão ainda em análise. De qualquer forma, a História nos leva por vários caminhos indutivos. Um deles é que o Estado permanece violento e repressor, atendente dos favores políticos da elite empresarial (onde um grande número são os próprios políticos) e surdo para às classes de baixa e média renda.
ResponderExcluirSim, Nathan, os acontecimentos em curso são um objeto em análise cujos sentidos ainda não estão definidos. Mas quanto ao papel do Estado, não é demais lembrar que desde a sua origem um dos seus fundamentos é o de manter a ordem social. É interessante repensar o papel do Estado atualmente, mas não se pode transferir para ele a responsabilidade por tudo. Esse é um debate que a sociedade precisa fazer.
ExcluirO Estado não deixou e não deixará de ser um aparelho ideológico de repressão, pois onde houver sociedade haverá luta de classes...
ExcluirCaro, José Araújo, o Estado não é só força ele é também consenso, ele não é só dominação é também legitimidade. Você, como conhecedor da Teoria do Estado compreende bem isso. Neste sentido, penso ser necessário discutir não apenas a responsabilidade do Estado como também o papel da sociedade e dos movimentos sociais, seja no caso da "Revolta dos Centavos" como em outros acontecimentos.
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