sábado, 27 de outubro de 2018

28/10/2018, UM DIA DECISIVO: ELEIÇÕES, REDES SOCIAIS E DESAFIOS À DEMOCRACIA BRASILEIRA



José Vieira da Cruz

As redes sociais, já há algum tempo, representam outras formas de comunicação: massivas, individuais e com filtros de mediação, de identificação e de responsabilização frágeis. Nos últimos tempos, portanto, acompanhá-las e decifrá-las têm sido um dos grandes desafios contemporâneos.
Diante delas, a imprensa tradicional, os partidos políticos e, até mesmo, as universidades e seus pesquisadores, enquanto formadores de opinião, precisam (re)pensar seus papéis, ações e zonas de conforto.
Enquanto isso, é central compreender como, em tempos de liberdade e de acesso democrático à informação, (pré)conceitos racistas, de gênero, de classe, de regionalidade e atinentes à vida são evocados, banalizados e considerados.
Neste momento de decisão - imerso por milhões de postagens, links, vídeos, fotos e animações -, é essencial verificar a origem da fonte dessas informações, bem como, o lugar, a intenção e a posição de quem as produziu. E ainda, de como essas informações – filtradas as manipulações e as inverdades, fake news –, expressam a soberania nacional, a vontade popular e o conhecimento socialmente partilhado.
Inter-relacionado a tudo isso, a democracia, enquanto sistema político, não é perfeita e tem suas contradições, mas, seguramente, ainda é o que melhor garante o direito às liberdades individuais, de expressão e políticas. A conquista destas liberdades, ao longo da história, custou vidas e desperta sentimentos em favor da cidadania e de soberania entre os povos.
Parafraseando um ditado popular europeu, notabilizado pelos escritos da filosofa judia, ativista contrária ao Nazismo e aoFascismo, Hannah Arendt, de que “não precisamos jogar fora a criança junto com a água do banho”, podemos dizer que não precisamos fragilizar a democracia ou eliminá-la por causa de algumas ações de políticos antiéticos. Estes precisam responder por seus atos, no entanto, a democracia não deve ser criminalizada.
Não joguemos fora o aprendizado da democracia em razão de contradições inerentes ao jogo da política e que podem ser superados pela justiça, pelas urnas e pela vontade popular crítica e consciente.
Em nossa tenra História Republicana, premida entre militares e bacharéis, com suas espadas e leis, nenhuma ditadura, nem a do Estado Novo, 1937-1945, nem a Civil-militar, 1964-1985, reivindicou para si o referido título. Ao contrário, em nome da depuração dos valores morais, religiosos e patrióticos, deformaram as instituições republicanas, a democracia e os direitos humanos através da censura, do fechamento do parlamento, de prisões arbitrárias, de torturas, de assassinados e jogando para baixo do tapete escândalos de corrupção e éticos.
O mais grave é que as ditaduras, não importa onde elas ocorram, sempre começam com o apoio de parte da sociedade que logo se ressentem dos seus efeitos.
Temos ciência e consciência de que vivemos, nos dias atuais, outros formas de violências deferidas cotidianamente contra o(a)s cidadã(o)s brasileiro(a)s de todas as idades, gêneros, classes, etnias e regiões. Vivemos uma realidade na qual não se pode ignorar as mais de 60 mil mortes violentas registradas anualmente, nem os grupos que estão mais vulneráveis a esse genocídio. Mas as propostas para resolução desse problema não podem provocar mais mortes e mais violência. É preciso agir sobre as causas, sejam elas as desigualdades ou a impunidade, promover políticas de inclusão étnicas-culturais e de gênero, de respeito às leis, de promoção da paz, de tolerância política e de justiça social.
Uma autocrítica é necessária e quiçá surja com a mesma celeridade e alcance proporcionado pelo fenômeno das redes sociais! Mas enquanto isso, é preciso avaliar as consequências da escolha política que será realizada, por cada um de nós, no próximo domingo, dia 28 de outubro de 2018.
Neste momento decisivo, votarei pela democracia, contra qualquer exaltação ou referência à ditadura e as suas práticas. Votarei em respeito à justiça social, a diversidade e em respeito ao outro.


terça-feira, 23 de outubro de 2018

UMA SEMANA DECISIVA: ELEIÇÕES, REDES SOCIAIS E DESAFIOS À DEMOCRACIA BRASILEIRA


José Vieira da Cruz

 

As redes sociais, já há algum tempo, representam outras formas de comunicação: massivas, individuais e com filtros de mediação, de identificação e de responsabilização frágeis. Nos últimos tempos, portanto, acompanhá-las e decifrá-las têm sido um dos grandes desafios contemporâneos.
Diante delas, a imprensa tradicional, os partidos políticos e, até mesmo, as universidades e seus pesquisadores, enquanto formadores de opinião, precisam (re)pensar seus papéis, ações e zonas de conforto.
Enquanto isso, é central compreender como, em tempos de liberdade e de acesso democrático à informação, (pré)conceitos racistas, de gênero, de classe, de regionalidade e atinentes à vida são evocados, banalizados e considerados.
Neste momento de decisão - submersos por milhões de postagens, links, vídeos, fotos e animações -, é essencial verificar a origem da fonte dessas informações, bem como, o lugar, a intenção e a posição de quem as produziu. E ainda, de como essas informações – filtradas as manipulações e as inverdades, fake news –, expressam a soberania nacional e a vontade popular.
A democracia, enquanto sistema político, não é perfeita e tem suas contradições, mas, seguramente, ainda é o que melhor garante o direito às liberdades individuais, de expressão e de escolhas políticas. A conquista destas liberdades, ao longo da história, custou vidas e desperta sentimentos em favor da cidadania e de soberania entre os povos.
Parafraseando um ditado popular europeu, notabilizado pelos escritos da filosofa judia, combatente do Nazismo e do Fascismo, Hannah Arendt, de que “não precisamos jogar fora a criança junto com a água do banho”, podemos dizer que não precisamos fragilizar a democracia ou eliminá-la por causa de algumas ações de políticos antiéticos. Estes precisam responder por seus atos, no entanto, a democracia não deve ser criminalizada.
Não joguemos fora o aprendizado da democracia em razão de contradições inerentes ao jogo da política e que podem ser superados pela justiça, pelas urnas e pela vontade popular crítica e consciente.
Em nossa tenra História Republicana, premida entre militares e bacharéis, com suas espadas e leis, nenhuma ditadura, nem a do Estado Novo, 1937-1945, nem a Civil-militar, 1964-1985, reivindicou para si o referido título. Ao contrário, em nome da depuração dos valores morais, religiosos e patrióticos, deformaram as instituições republicanas, a democracia e os direitos humanos através da censura, do fechamento do parlamento, de prisões arbitrárias, de torturas, de assassinados e jogando para baixo do tapete escândalos de corrupção e éticos.
O mais grave é que as ditaduras, não importa onde elas ocorram, sempre começam com o apoio de parte da sociedade que logo se ressentem dos seus efeitos.
Temos ciência e consciência de que vivemos, nos dias atuais, outros formas de violências deferidas cotidianamente contra o(a)s cidadã(o)s brasileiro(a)s de todas as idades, gêneros, classes, etnias e regiões. Vivemos uma realidade na qual não se pode ignorar as mais de 60 mil mortes violentas registradas anualmente, nem os grupos que estão mais vulneráveis a esse genocídio. Mas as propostas para resolução desse problema não podem provocar mais mortes e mais violência. É preciso agir sobre as causas, sejam elas as desigualdades sociais ou a impunidade, e promover políticas de inclusão e de respeito às leis como uma estratégia para promoção de paz e de justiça social.
Uma autocrítica é necessária e quiçá surja com a mesma celeridade e alcance proporcionado pelo fenômeno das redes sociais! Mas enquanto isso, é preciso avaliar as consequências da escolha política que, cada um de nós, realizará no próximo domingo, dia 28 de outubro de 2018.
Domingo, votarei pela democracia, contra qualquer forma e discurso que exalte ou faça referência a ditadura e suas práticas. Votarei em respeito à justiça social, a diversidade, em respeito ao outro.

sábado, 2 de junho de 2018

Um defensor das artes e da democracia (texto em construção)


A notícia do dia de ontem, 29/05/2018, do desaparecimento de José Carlos Teixeira, ex-deputado federal, uma das referências do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), ex-governador do Estado de Sergipe, uma das lideranças na resistência democrática contra a ditadura civil-militar e um importante mecenas das artes, marca um momento de perdas e de reflexão.
José Carlos militou no cenário político ao lado de figuras como Ulisses Guimarães e Teotonio Brandão Vilela. A exemplo dois mencionados políticos, a sua formação liberal e humanista não permitiu que ele se curva-se as mazelas da ditadura.
Além de sua interlocução na defesa de presos e de perseguidos políticos ele, ao longo de sua vida, atuando em muitas vezes como mecenas, apoiou a divulgação e promoção das artes, em particular em ações relacionadas as artes clássicas.

Dom Luciano e seu legado (texto em construção)

Dom Luciano e seu legado (texto em construção)

A notícia do dia ontem, 29/05/2018, do desaparecimento do Arcebispo emérito de Aracaju, Dom Luciano Cabral Duarte, além dos significados atinentes ao seu posto eclesiástico, exigi em respeito as suas contribuições a cultura e a educação brasileira, uma significativa reflexão de seu legado.
Para além, de suas posições religiosas e políticas, a sua formação e atuação humanista, seja como uma da referência da Juventude Universitária Católica, nas décadas de 1950 e 1960, seja no debate sobre a Reforma Universitária, na década de 1960, e no movimento de criação da Fundação Universidade Federal de Sergipe (1948-1968), ou ainda, na sua atuação no Conselho Federal de Educação e em outros conselhos deliberativos e consultivos, o notabilizam como personalidade chave para compreender a Igreja Católica, a política, a educação e a sociedade brasileira na segunda metade do século XX.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Uma história de ativismo estudantil




Afonso Nascimento


Professor de Direito da UFS



Geralmente associado (mas não necessariamente) a grupos políticos de esquerda, o movimento estudantil vive uma crise importante que é também a crise da esquerda brasileira. Essa crise tem tudo a ver com o fim da experiência do comunismo em todas as partes do mundo. Especificamente em relação ao Brasil, houve um refluxo do movimento estudantil provocado pela redemocratização do país nos anos 80 do século passado. Quando ocorreu o processo de impeachment do ex-presidente Fernando Afonso Collor de Mello, o ME ganhou um importante protagonismo puxado pela mídia naquilo que ficou conhecido como “os caras pintadas”. Com a chegada ao poder pelo Partido dos Trabalhadores, a esquerda e o ME também chegaram ao poder e de certa forma se acomodaram. Presentemente, com a nova crise que se abateu sobre a esquerda por conta de seu envolvimento com problemas de corrupção, observa-se um novo refluxo e um inédito avanço da direita estudantil nos campi universitários pelo país afora e, embora a esquerda estudantil ainda seja hegemônica em tais espaços, não consegue mobilizar estudantes para uma participação política mais expressiva. O Brasil sofreu um golpe de estado em 2016 e conhece uma crise política que mistura estado de exceção e democracia e, apesar de não faltarem bandeiras do seu interesse, o movimento estudantil está muito “parado”.


É nesse contexto de refluxo do movimento estudantil brasileiro que, em boa hora, foi lançado em fins de 2017 o novo livro de José Vieira da Cruz (doravante chamado de Vieira da Cruz) sobre o movimento estudantil (VIEIRA DA CRUZ, José. Da autonomia à resistência democrática. Movimento Estudantil, Ensino Superior e sociedade em Sergipe (1950-1985). Maceió: EDUFAL, 2017). Para quem não o conhece, Vieira da Cruz é um historiador sergipano com graduação e mestrado pela UFS e doutorado pela UFBA e que é, no momento, professor e vice-reitor da Universidade Federal de Alagoas. Esse seu novo trabalho é a transformação de sua tese de doutoramento num livro de mais de seiscentas páginas. Isso é dito, não com o objetivo de desestimular a sua leitura, mas para dar uma ideia da qualidade e da densidade da obra desse jovem historiador. Vamos dar mais algumas informações sobre o livro.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

CIÊNCIA, RESPONSABILIDADE SOCIAL E SOBERANIA: TEMA SBPC 2018






José Vieira da Cruz*

  



A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), fundada em 1948, promove  há 70 anos reuniões entre as sociedades científicas a ela associada. Atualmente mais de 130 sociedades, de diferentes áreas do conhecimento estão associadas a SBPC. Nestas Reuniões Anuais (RA), em regra, realizadas alternadamente em universidades de diferentes regiões do país, o evento costuma reunir, em média entre 12 a 15 mil pessoas de diferentes faixas etárias, desde pesquisadores seniores a jovens cientistas, além de está aberta a toda à sociedade.


sábado, 6 de janeiro de 2018

"Um silêncio profundamente eloquente" - Clodoaldo de Alencar Filho – Reitor Emérito da UFS (1988-1992)




José Vieira da Cruz* 

O argumento de que o significado de uma imagem vale mais que mil palavras, expressão popular atribuída a Confúcio, conhecido filósofo chinês, nem sempre é suficiente para abstrair os conteúdos e sentidos que uma imagem contém e pode gerar.
Na foto em tela, registro o encontro com o professor Clodoaldo de Alencar Filho, Reitor Emérito da Universidade Federal de Sergipe (UFS), em um café citadino de Aracaju, ocorrido ontem 05/12/2018. Frente a esse registro fotográfico e ao título atribuído, resta-me, explicar algumas dos sentidos da imagem e do encontro.