terça-feira, 23 de outubro de 2018

UMA SEMANA DECISIVA: ELEIÇÕES, REDES SOCIAIS E DESAFIOS À DEMOCRACIA BRASILEIRA


José Vieira da Cruz

 

As redes sociais, já há algum tempo, representam outras formas de comunicação: massivas, individuais e com filtros de mediação, de identificação e de responsabilização frágeis. Nos últimos tempos, portanto, acompanhá-las e decifrá-las têm sido um dos grandes desafios contemporâneos.
Diante delas, a imprensa tradicional, os partidos políticos e, até mesmo, as universidades e seus pesquisadores, enquanto formadores de opinião, precisam (re)pensar seus papéis, ações e zonas de conforto.
Enquanto isso, é central compreender como, em tempos de liberdade e de acesso democrático à informação, (pré)conceitos racistas, de gênero, de classe, de regionalidade e atinentes à vida são evocados, banalizados e considerados.
Neste momento de decisão - submersos por milhões de postagens, links, vídeos, fotos e animações -, é essencial verificar a origem da fonte dessas informações, bem como, o lugar, a intenção e a posição de quem as produziu. E ainda, de como essas informações – filtradas as manipulações e as inverdades, fake news –, expressam a soberania nacional e a vontade popular.
A democracia, enquanto sistema político, não é perfeita e tem suas contradições, mas, seguramente, ainda é o que melhor garante o direito às liberdades individuais, de expressão e de escolhas políticas. A conquista destas liberdades, ao longo da história, custou vidas e desperta sentimentos em favor da cidadania e de soberania entre os povos.
Parafraseando um ditado popular europeu, notabilizado pelos escritos da filosofa judia, combatente do Nazismo e do Fascismo, Hannah Arendt, de que “não precisamos jogar fora a criança junto com a água do banho”, podemos dizer que não precisamos fragilizar a democracia ou eliminá-la por causa de algumas ações de políticos antiéticos. Estes precisam responder por seus atos, no entanto, a democracia não deve ser criminalizada.
Não joguemos fora o aprendizado da democracia em razão de contradições inerentes ao jogo da política e que podem ser superados pela justiça, pelas urnas e pela vontade popular crítica e consciente.
Em nossa tenra História Republicana, premida entre militares e bacharéis, com suas espadas e leis, nenhuma ditadura, nem a do Estado Novo, 1937-1945, nem a Civil-militar, 1964-1985, reivindicou para si o referido título. Ao contrário, em nome da depuração dos valores morais, religiosos e patrióticos, deformaram as instituições republicanas, a democracia e os direitos humanos através da censura, do fechamento do parlamento, de prisões arbitrárias, de torturas, de assassinados e jogando para baixo do tapete escândalos de corrupção e éticos.
O mais grave é que as ditaduras, não importa onde elas ocorram, sempre começam com o apoio de parte da sociedade que logo se ressentem dos seus efeitos.
Temos ciência e consciência de que vivemos, nos dias atuais, outros formas de violências deferidas cotidianamente contra o(a)s cidadã(o)s brasileiro(a)s de todas as idades, gêneros, classes, etnias e regiões. Vivemos uma realidade na qual não se pode ignorar as mais de 60 mil mortes violentas registradas anualmente, nem os grupos que estão mais vulneráveis a esse genocídio. Mas as propostas para resolução desse problema não podem provocar mais mortes e mais violência. É preciso agir sobre as causas, sejam elas as desigualdades sociais ou a impunidade, e promover políticas de inclusão e de respeito às leis como uma estratégia para promoção de paz e de justiça social.
Uma autocrítica é necessária e quiçá surja com a mesma celeridade e alcance proporcionado pelo fenômeno das redes sociais! Mas enquanto isso, é preciso avaliar as consequências da escolha política que, cada um de nós, realizará no próximo domingo, dia 28 de outubro de 2018.
Domingo, votarei pela democracia, contra qualquer forma e discurso que exalte ou faça referência a ditadura e suas práticas. Votarei em respeito à justiça social, a diversidade, em respeito ao outro.

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