José Vieira da Cruz
Doutor em História (UFBA), professor da SEED,
da SEMED/AJU e da UNIT
Mais um dia 15 de
outubro aproxima-se e, como de hábito, começam a surgir às primeiras homenagens
aos professores e às professoras. Profissionais que – não obstante os desafios
de seu ofício – estimulam e cultivam o desenvolvimento científico, artístico,
cidadão e humano. Este ano, vasculhando
as primeiras notícias relativas a estas homenagens, deparei-me, nas redes
sociais e nos meios de comunicação, com a notícia de que a Assembleia
Legislativa do Estado de Sergipe, palco de recentes embates em torno da
valorização desses profissionais – dentre os quais me incluo –, estará
conferindo uma homenagem àqueles que pautaram suas trajetórias profissionais à
causa da educação.
A homenagem será
conferida, mediante a concessão da “Medalha do Mérito Educacional Manoel José
Bomfim”, a sete profissionais que atuam ou atuaram no campo da educação: Ruy
Belém de Araújo, Maria Thétis Nunes, Virgínio José de Carvalho Neto, Marlene
dos Santos Alves, Rusel Marcos Batista Barroso, Celina Nascimento Montalvão e a
Ada Augusta Celestina Bezerra. Neste artigo, limitar-me-ei a tecer alguns comentários
a partir de dois pontos de interlocução: a medalha que reccebe o nome de Manoel
Bomfim e a homengem conferida ao prof. Ruy Bélem de Araújo.
A “Medalha ao Mérito Educacional Manoel
Bomfim”, foi estabelecida pela Assembleia Legislativa de Sergipe, através da
resolução nº 26/2010, de autoria da deputada estadual Ana Lúcia Vieira Menezes,
com o intuito de reconhecer os esforços conferidos por aqueles que contribuíram
com a educação. Honraria que toma de
empréstimo o nome do intelectual, médico e educador Manoel José Bomfim (1868-1932),
nascido em Aracaju. Bomfim notabilizou-se como crítico das teorias racistas do
começo do século XX, contestador da situação de dependência econômica da
América Latina em detrimento dos países colonizadores, e como defensor da
educação popular e de qualidade. Esta última, compreendida por ele como o
caminho para a construção de uma república soberana e democrática.
Essa dupla homenagem, a Manoel Bomfim e aos
educadores agraciados pela referida honraria, não poderia ser conferida em data
mais apropriada: 15 de outubro, dia dos professores.
Dentre os homenageados deste ano, a escolha
do professor e mestre Ruy Belém de Araújo é mais que merecida. Esse
profissional, natural de Riachuelo (SE), influenciado por familiares – alguns
ligados a Juventude Universitária Católica (JUC), como foi o caso de seu irmão
José Araújo – desde cedo exercitou sua cidadania como militante do movimento
estudantil no contexto dos anos de 1970. Inclusive, participou dos preparativos
para reabertura da União Nacional dos Estudantes (UNE), dos debates e disputas
para a realização de eleições livres no Diretório dos Estudantes (DCE/UFS), das
lutas contra o jubilamento de estudantes e das mobilizações da sociedade civil
contra a ditadura civil-militar (1964-1985).
Formado no curso de História da UFS, em 1980,
especializou-se em História Moderna e Contemporânea pela PUC/MG, em 1988, e
obteve seu mestrado em Geografia Agrária pela UFS, em 1995. Atuou como
professor da Rede Estadual de Educação de Sergipe, como professor do Colégio de
Aplicação da UFS e como Secretário Municipal de Educação de Aracaju. Nos últimos
anos, tem atuado como Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários e como
professor do curso de História da UFS.
Quando na condição de seu aluno, tive a
oportunidade de resenhar, sob sua orientação, a obra “A era dos extremos: breve
história do século XX” – então recém-lançada –, e confesso que, a leitura da
mencionada obra, foi uma travessia difícil, mas necessária e proveitosa. Penso que
esta também tenha sido à conclusão a que chegaram Maria Zelita, Magna, Gildo,
Juarez, Eloísa, Dilton, Péricles, Geraldo, Mário, Joceneide, Dênio, Pedro e
tantos outros colegas – hoje profissionais que atuam em diferentes instituições
de ensino, pesquisa e gestão –, a respeito da importância dos estudos de Eric
Hobsbawm para os debates acerca dos sentidos da história contemporânea.
Também conheci o Ruy Belém colega, quando
atuamos junto ao Projeto de Qualificação Docente, o denominado PQD. Nesse
projeto, Ruy foi seguramente um dos professores mais queridos.
Em Ruy, penso que vemos o professor, o colega
e o amigo, mas também o representante sindical que havia atuado no Centro dos
Profissionais de Ensino de Sergipe (CEPES), que atuou junto ao Sindicato dos
Trabalhadores em Educação Básica da Rede Oficial do Estado de Sergipe (SINTESE)
e que atua na Associação dos Professores da UFS (ADUFS). Vemos em Ruy, a
confiança e a habilidade de um educador capaz de “contemporanizar tensões”, promover
articulações políticas e a capacidade de manter o senso de humanidade. Essa
imagem ficou ainda mais reforçada, quando da realização, por mim, de uma
entrevista com ele para o projeto “Vozes de um passado presente”. No curso dessa
entrevista, ao ser indagado sobre como, na condição de Pró-reitor de Extensão e
Assuntos Comunitários, ele lidava com as demandas dos movimentos sociais,
respondeu-me que o papel de um gestor público, proveniente ou não dos
movimentos sociais, deve manter:
“a postura do diálogo, da conversa, da
discussão sem se preocupar em cooptação! Isso para mim é que é um engano, pois
o gestor que age na perspectiva de cooptação comete um equívoco (...) [Estou] como
Pró-reitor de Extensão, dando seguimento ao que eu sempre acreditei: que a
universidade tem de estar aberta para o diálogo com a sociedade, com os
movimentos sociais. E isso a gente tem pautado aqui na gestão juntamente com o
professor Josué, trazendo os movimentos sociais para universidade, dialogando
com eles! Porque esse é o papel da Pró-reitoria” (ARAÚJO, Ruy Belém de.
Entrevistado em 20/08/2010).
Íntegro,
predisposto ao diálogo, capacidade de articulação, dedicação e bom senso. Esse
é o Ruy Belém que os alunos, ex-alunos, colegas do estado, colegas dos
diferentes municípios, colegas da universidade e amigos conhecem. Poderíamos
defini-lo como um historiador, leitor de Marx, Lênin, Trotsky, Chesneaux,
Hobsbawm entre outros, além de educador, sindicalista, militante político e
cidadão. Ou seria melhor qualificá-lo
como profissional, homem público e figura humana ímpar. Seja qual for a
escolha o importante é que será homenageado com a “Medalha do Mérito
Educacional Manoel José Bomfim”, honraria concedia aos que militam ou militaram
por uma educação digna e de qualidade para todos. Em fim, uma bela homenagem a
BOMFIM, digo Manoel José Bomfim, e a ARAÚJO, digo nosso caro Ruy Belém de
Araújo.
Bem a homenagem a todos(as) os professores é mais que justa.
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