Clauber Benhur Santos dos Santos*
Na tarde de 21 de agosto de 2012, enquanto dirigia e ouvia por uma das emissoras de rádio os acontecimentos de nossa cidade, uma notícia em particular causou-me a sensação de um vazio que se abria no contínuo de nosso presente/passado. Refiro-me a notícia do falecimento de Mary Mesquita Dória. Porque repentinamente veio a minha mente essa emoção? Perguntei-me durante alguns instantes a respeito! E a resposta não tardou a aparecer, logo lembrei que durante a realização do trabalho de conclusão de curso de História que realizei na Universidade Tiradentes, juntamente com dois outros companheiros, e sob a orientação do prof. José Vieira da Cruz, aprendi a importância dos estudos sobre atuação de personagens nem sempre evidenciados pela historiografia: entre eles as mulheres e os familiares de personalidades do mundo político, econômico e cultural. Pois bem, Mary Mesquita Dória é uma dessas personagens, pouco conhecidas mais que teve um papel digno de nota, registro e lembrança.
Esposa de João de Seixas Dória – governador eleito em 1962, deposto pelo golpe civil-militar em 1964 –, mãe de dois filho e avó, Mary Dória não se ocupou apenas com as atribuições inerentes a uma primeira dama de um governador que vivia envolta dos debates nacionalistas, reformistas e populares. Ela teve um papel ainda mais significativo para a história, sobretudo na luta para garantir a seu esposo, já na condição de governador deposto, assistência jurídica e apoio necessário para assegurar sua integridade física, os seus direitos e a sua liberdade. Neste sentido, Mary Mesquita Dória se junta ao rol de tantas outras mulheres: esposas, mães, irmãs, companheiras e guerreiras, que não se furtam a lutarem pelos seus, usando da licença poética, como leoas na defesa de seus rebentos, nesse caso de seu companheiro.
Penso que a sociedade reconhece o feito de Seixas Dória, homem público que em um instante de tensão política manteve-se fiel a legalidade e não apoiou aqueles que lançaram o país em 21 anos de uma ditadura civil-militar. Mas essa sociedade talvez pouco conheça a história de sua esposa e de seus familiares nos momentos em que ele esteve sob a mira das autoridades golpistas. Foi essa história que eu estudei. Por isso, sei da importância dessa mulher como um dos símbolos de resistência em favor da liberdade política em nosso país no período da ditadura civil-militar que vigorou de 1964 a 1985.
Mary Dória foi, nas palavras de seu esposo, “uma lutadora intimorata” que não recuou até poder assegurar-lhe a liberdade. Dessa forma, a notícia de sua morte produziu em mim, num primeiro momento, um silêncio retumbante. Irrompo esse silêncio agora para registrar uma homenagem a ela e as mulheres desse país que lutam por seus direitos e pelos direitos dos seus.
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