José
Vieira da Cruz
(Historiador
e Professor da UFAL)
As discussões a respeito do
período da Ditadura Civil-militar fazem parte de um passado ainda muito
próximo. No Nordeste, em particular Sergipe, as experiências (de resistência) e
o jogo de interesses deflagrados frente à “nova ordem política” imposta, a partir
de março de 1964, foram diversos, contraditórios e, em parte dos casos,
traumáticos. Em Sergipe, esses interesses e contradições revelam significados a
respeito de como a sociedade tem dificuldade em lidar com esse passado, a ponto
de ser um dos poucos estados do país a não possuir uma comissão (estadual da)
verdade.
Não obstante às críticas, o
resultado alcançado por essas comissões tem repercutido na interpretação sobre
esse passado, como pode ser observado nas temáticas escolhidas para discussões
de vários fóruns acadêmicos durante o ano de 2014, cujo foco é o debate sobre a
Ditadura. Neste sentido, tanto a Comissão Nacional da Verdade (CNV) quanto às
comissões estaduais da verdade, embora estejam concentradas nos estudos de
crimes contra a violação dos direitos humanos – deixando de fora outros tipos
de violações de direitos contra indivíduos, grupos ou instituições –, têm
convertido experiências de resistência e apurações de denúncias em debates
sobre o exercício da cidadania e os limites do controle do Estado no Brasil.
Mas, até o momento, essa
repercussão não foi suficiente para mobilizar a sociedade, os partidos
políticos (de esquerda e de direita) e o “Estado” em Sergipe para criação de
uma comissão congênere. Sob o ponto de vista dessa reflexão, isto pode revelar
dois pontos de interpretação: o de que a sociedade não teria interesse nessa
comissão; ou que há dificuldade da sociedade em lidar com as contradições desse
passado e de sua imbricada teia de relações.
Partilhando da segunda
interpretação, observei que nos jornais os primeiros debates a respeito datam
de janeiro de 2012, e o primeiro fórum sobre a questão, promovido pelo
Ministério Público Federal (SE), ocorreu em fevereiro do mesmo ano. Em
seguida ocorreram algumas tentativas para criação de uma comissão estadual, mas
apesar do contexto favorável, tanto em âmbito nacional quanto no âmbito de
outros estados, o consenso e a vontade para a respectiva criação não foram
encontrados.
Recentemente, em período de
férias, ao voltar às terras de Sergipe, ouvindo um conhecido programa de rádio
vespertino, acompanhei a entrevista do atual Secretário de Direitos Humanos do
Estado, que, ao contrário de seu antecessor, parece demonstrar, por razões de
formação e origem, um maior entusiasmo frente à questão da referida comissão.
Entretanto, o problema agora parece reformular-se em razão das prioridades e
das incertezas comuns aos períodos eleitorais.
Pelo
visto, o problema de Sergipe não é o da criação de uma comissão estadual da
verdade, iniciativas já realizadas por outros estados, inclusive Alagoas e a
Bahia. O problema que se coloca são as razões para a não criação dessa
comissão.
Este artigo foi publicado:
CRUZ, José Vieira da.
"Sem Comissão da Verdade". In: Portal Faxaju. Aracaju, 06/09/2014.
Disponível em: <http://www.faxaju.com.br/conteudo.asp?id=188951>. Acessado em 06/09/2014.
_____. "Sem Comissão da Verdade". In: Jornal da Cidade. Ano XLIII, nº 2.651, 7 a 8 de setembro de 2014, p. B-6
_____."Sem Comissão da Verdade". In: Blog Primeira Mão. Aracaju, 09/09/2014. Disponível em: < http://www.primeiramao.blog.br/post.aspx?id=8110&t=sem-comissao-da-verdade>. Acessado em 09/09/2014,
_____. "Sem Comissão da Verdade". In: Jornal da Cidade. Ano XLIII, nº 2.651, 7 a 8 de setembro de 2014, p. B-6
_____."Sem Comissão da Verdade". In: Blog Primeira Mão. Aracaju, 09/09/2014. Disponível em: < http://www.primeiramao.blog.br/post.aspx?id=8110&t=sem-comissao-da-verdade>. Acessado em 09/09/2014,
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